sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O tamanho do peru



Gente, ainda bem que eu conheço pessoas que sabem que sou capaz de certas coisas, e hoje fiz uma delas e tive a mais divertida das surpresas.

Desde que vim morar aqui em Florianópolis, há dois anos e meio, eu adotei um estilo de vida mais saudável e vivo nas feiras da cidade em busca de alimentos orgânicos e coloniais, especialmente queijo. É chamado queijo colonial o de produção artesanal originário do Rio Grande do Sul, mas se fabrica aqui em Santa Catarina também, felizmente, É UMA DELÍCIA! Há uma feira de orgânicos todas as quartas-feiras no campus da UFSC, e, com exceção das segundas e quintas, no Largo da Alfândega no centro da cidade há uma feira de produtores das redondezas que trazem os benditos queijos e manteiga colonial, cachaça, açúcar mascavo, ovo caipira, feijão, fubá, goma de tapioca, muitas folhagens orgânicas, as verduras em sua maioria são do Ceasa, mas algumas barracas trazem um ou outro vegetal orgânico, e muitas outras coisas que comumente se encontra nessas feiras. Bato meu ponto semanalmente e já sou conhecida de alguns feirantes.

Feira no Largo da Alfândega, centro de Floripa

Eu adoro feiras! É um ambiente saudável, mas principalmente de muita comida, e há coisas que só acontecem lá! Só há coisas gostosas, e muito me agrada ver que há negócios de famílias inteiras em que todos trabalham, pois se cria um clima mais íntimo. Há um casal de velhinhos que eu adoro e já os chamo de “tio” e “tia” e sempre que me vêem já esboçam um doce sorriso. Como eu sou de fora da cidade curto muito observar o sotaque local e identificar as diferentes variações de pessoas de outras localidades, mas o sotaque “Manezinho” típico de Floripa é o que reina com seus bordões e vocábulos, mas o que mais gosto é o de tratar a todos por “Quirid@”, geralmente no fim da frase e, muitas vezes, para se tirar certa vantagem do outro, principalmente numa conversa divertida.

Hoje eu estava pagando minha sacola de folhas quando o feirante da barraca do lado começou a gritar: “OLHA O PERU! QUEM VAI LEVAR O PERU?!? ELE ESTÁ NO PONTO!”. Eu, claro, ri e a mocinha que me atendia que é muito branquinha chegou ficar enrubescida ao me acompanhar no riso. Novamente, eu, claro, que não posso decepcionar o meu público, me engajei na seguinte discussão:

Eu: Mas esse peru é grande?
Feirante: Claro, filha, aqui só tem coisa de qualidade!
Transeunte: Sei não... esse peru não está com cara de ser grande...
Feirante: Tamanho não é documento, “Quirida”!

Todos riram do dono do peru!!! Eu tive que me escorar na barraquinha da moça, que a esta altura já estava com as bochechas quase púrpuras. E o melhor era a cara do sujeito, daquelas figuras bem divertidas e sem-vergonha!

É sério, esse tipo de coisas estão sempre a acontecer comigo e é pena que eu não consiga transferir para cá toda a diversão e espontaneidade do momento. Mas espero que você ache graça e, como a transeunte intrometida, que aprenda a lição!

Bom peru para quem vai comer na semana que vem!


Flávia Criola

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A beleza do cinza


Hoje é o dia da Consciência Negra. 

Eu, uma Criola filha de uma negra e um alemão, nunca entendi o pensamento que leva ao preconceito uma vez que nasci em de uma união inter-racial, pois sempre parti do princípio que se meus pais aceitaram um ao outro eu jamais poderia aceitar qualquer tipo de comportamento preconceituoso no que diz respeito a diferentes raças.

Em tempos pós-modernos nosso pensamento nunca foi tão retrógrado. Uma coisa que me aborrece muito é ver que é preciso haver um esforço coletivo de esclarecer que AINDA existe racismo... AINDA há pessoas que negam ser racistas, mas seus atos as condenam... AINDA há pessoas que falam em prol do combate ao racismo com um tom de condescendência em suas vozes, para mim das mais irritantes das coisas relacionadas ao assunto... AINDA há quem diga que o racismo é maior por parte dos próprios negros, e quem diz isso não é negro, obviamente. AINDA há quem julgue uma pessoa como bandido só por ser negro.  AINDA é escassa a presença de negros em comerciais, editais de moda, novelas, em posições de liderança, como protagonistas em estórias, nas escolas e nas universidades. Enfim, esta lista poderia ser enorme...

Há uma música que gosto muito, The beauty of gray, "A beleza do cinza", da banda Live (do disco Mental Jewelry - 1991), que questiona a reação indiferente que temos para com quem julgamos diferente de nós e o fato de nunca questionarmos a origem dessa reação. 

As coisas que permitimos que nos separe dos outros que julgamos diferentes de nós são mentiras que nunca questionamos de onde vieram, ou vêm. Precisamos misturar nossas cores e apreciar a beleza da cor que resultar dessa mistura! É preciso sair da escuridão da ignorância e encher nossos olhos com a luz do sol e do discernimento!

Muita paz, muito Axé, e principalmente, MUITO AMOR!

Flávia Criola


Como eu sou uma tradutora acadêmica em formação (ham-ham!) a tradução é minha; a letra original pode ser vista aqui, e a música ser ouvida aqui.


"A Beleza do Cinza"

Se eu dissesse que ele é seu irmão
nós poderíamos relembrar o passado
então você poderia seguir com seu dia
se eu dissesse que você poderia dar-lhe um pouco de sua água
você balançaria seu cantil e daria suas costas
A percepção que te separa dele
é uma mentira
por alguma razão você nunca se perguntou porquê
este não é um mundo preto e branco
você não pode se permitir a acreditar apenas na sua opinião

REFRÃO
Este não é um mundo preto e branco
para estar vivo
digo que as cores devem se misturar
e acredito que talvez hoje
nós todos vamos apreciar
A beleza do cinza

Se eu dissesse que ela é sua mãe
nós poderíamos analisar a situação e irmos embora
se eu dissesse que você deve lhe dar um pouco de sua água
seus olhos se iluminariam como a madrugada
a percepção que te separa dela
é uma mentira
por alguma razão você nunca se perguntou porquê
este não é um mundo preto e branco
você não pode se permitir a acreditar apenas na sua opinião

REPETE O REFRÃO

Olhe dentro de seus olhos
não há a luz do dia
é um dia novo





domingo, 10 de agosto de 2014

Dia dos Pais

Há quase 16 anos este dia, o dia dos pais, é um tanto triste para mim não apenas em virtude do falecimento do seu Edilberto, meu papai, mas porque foi exatamente hoje, 16 anos atrás, que lhe dei o último abraço, ele faleceu dois meses depois... isso me entristece tanto quanto a ausência física dele, que fiquei mais de dois meses sem abraçá-lo antes de sua partida. Me lembro direitinho, foi um abraço apertado na copa da nossa casa onde eu assistia televisão, ele entrou e me levantei prontamente. Lembro da força e do tato com que nos abraçamos e beijamos.

Verdade seja dita, eu tive uma convivência um tanto difícil com ele, herdei seu temperamento difícil, éramos dois bicudos e de acordo com o velho ditado não nos beijávamos muito, eu era uma tola de 21 anos que já se achava a adulta super madura que sequer estava na faculdade ainda e como uma boa tolinha me achava cheia de razão nas minhas convicções, ele não cedia nas implicâncias e eu também não dava o braço a torcer.

Pense comigo e com Renato Russo: "você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer?". A primeira resposta que pode nos ocorrer é "vamos ser pais também", sim, mas antes disso vamos ser adultos, e acima de tudo, independente da nossa idade, somos humanos e como tal sempre cometeremos erros, não importa o tamanho da sua experiência, cometemos erros e tomamos decisões erradas em qualquer momento das nossas vidas. Me sinto meio mãe dos meus afilhados e quantas mancadas já dei com eles, por que teria sido diferente com meu pai? Por que eu coloquei nele a culpa de tudo que deu errado no nosso relacionamento? Ele era tão criança quanto eu, éramos dois tolos merecedores de perdão. Como diz também a canção mencionada acima, "você diz que seus pais não lhe entendem, mas você não entende seus pais".

Felizmente eu o perdoei pelas coisas que me magoaram e me perdoei também pelas mágoas que eu sei que causei a ele, principalmente na minha dificuldade em entendê-lo, e muito mais por não ter dado mais beijos e abraços, por não ter apreciado mais os momentos bons, ainda que fossem poucos.

Hoje, por um momento, me esqueci da comemoração do dia, talvez pelos tantos anos sem celebrá-la, mas quando me lembrei inicialmente senti um aperto no peito e depois lamentei por ter desperdiçado tanto tempo. Me veio à memória um momento em que estava com muita raiva, mas felizmente, como em uma cena de filme esta imagem triste e desnecessária foi se afastando até sumir e comecei a lembrar de quando éramos crianças ele chegava do trabalho diariamente com o bolso cheio de docinhos causando ira na minha mãe porque ele os entregava antes da janta, eu e minha irmã corríamos para ele gritando com os braços para cima, "docinho, docinho!". Quando fazia graça para minhas amigas e as da minha irmã, da sua gargalhada de trovão, de quando cantava TODOS OS DIAS: "Morena de Angola" da Clara Nunes, "Não vadeia, Clementina" e "Don't cry for me Argentina", esta última a sua favorita, e dançava desengonçadamente com os braços para cima estalando os dedos, quando vestia uma roupa da minha mãe por pura palhaçada e do dia que ele amarrou sua dentadura num barbante e pendurou na parede do meu quarto e veio querendo me beijar sem dentes e corri com nojo e ele me encurralou de modo que eu encostasse na parede e naquela dentadura medonha e tirou o maior sarro da minha cara, ainda sem dentes, é claro, e eu não sabia se ria ou chorava de ódio! Esse era o meu pai!

É quase clichê dar este conselho, mas se é clichê é porque já deu certo: se está com raiva, se não se falam ou não interessa, dê um abraço e um beijo sem ressentimentos; se está longe dê um telefonema, não só hoje, sempre que tiver vontade e oportunidade, o vácuo entre esse contato e a impossibilidade de realizá-lo não tem tamanho. Se for o caso, perdoe e se perdoe, crie oportunidades de bom convívio, dê o braço a torcer, não seja vaidoso ou orgulhoso. Ainda citando a música do Legião Urbana,

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"

hoje é sempre o melhor momento para se fazer qualquer coisa que te traga alegria! Não é a toa que a canção se chama "Pais e Filhos". Quando tinha 14 anos tive a felicidade de ouvir esta música ao vivo em um show do Legião em Vitória e me lembro de ter chorado o tempo todo enquanto a ouvia, mas só fui entender seu significado muitos anos depois. Ouça-a, entenda-a, e coloque a mensagem que ela traz em prática!

Feliz dia dos Pais!

Flávia Criola





domingo, 20 de julho de 2014

C* de Legal!



Finalmente as férias de julho! Esta é uma das grandes alegrias de ser professora:  se livrar das pestes dos alunos no meio do ano e aproveitar dias de puro ócio sem culpa.

Quando comecei a dar aulas, no ano 2000, sempre trabalhei com executivos em empresas, que são alunos interessados e interessantíssimos, pois se esforçam para aprender o máximo que puderem e levam seu trabalho a outro nível, ainda mais se você criar oportunidades que os permitam se sentir adolescentes para se desligarem da rotina estressante de trabalho. Mas desde 2010 tenho dado aulas exclusivamente para adolescentes e, olha, é um trabalho agridoce. É doce quando os adolescentes são legais, são seres incríveis, aprendemos e compartilhamos coisas que ficam tatuadas na memória; e é amargo porque quando querem se transformam nas pessoas mais abomináveis que sugam toda sua luz e te fazem querer morrer. Pode me criticar o quanto quiser por admitir isso, mas não é mentira!

No meio disso tudo há os momentos que nos espantam e explico o uso da palavra “espantar”. Ontem faleceu Rubem Alves, escritor e educador, e das inúmeras coisas que ele deixou em seu legado a que mais me marcou foi o termo “professor de espantos”, que ele explica neste vídeo, que é o professor que cria a curiosidade de pensar em seus alunos e o faz com muita alegria. Desde que vi esse vídeo faço de tudo para espantar meus pequenos súditos e elevar seus espíritos de modo a tornar os momentos de aprendizado em especiais, para que nunca se esqueçam da lição partilhada! Mas o  melhor disso é que os alunos nos espantam também! Há os espantos desejados e esperados, quando produzem adequadamente o que foi dividido com eles, e há os momentos quando eles nos pegam de calças curtas, como a situação que vos narrarei. Como eu me divirto com estas coisas!

Dia desses, pouco antes de encerramos o semestre, estava no meio de uma aula com uma turma de pré-avançado, todos adolescentes infernais super queridos e amados (de fato) e a lição do livro falava sobre o uso da linguagem corporal, gestos repetidos internacionalmente  que utilizamos no dia-a-dia como, por exemplo, as mãos em forma de T para pedir tempo, fazer um V com os dedos indicador e médio para simbolizar paz e amor, dentre muitos outros, inclusive esse que estou fazendo na foto acima. Quando perguntei o que ele significava eu esperava que algum dos meus diabinhos respondesse "OK", até que um aluno me respondeu sem qualquer cerimônia e com muita firmeza: “Cu”. Parei o que estava fazendo e olhei para ele bruscamente e gritei “WHAT?!”, e comecei a entrar em pânico quando outros alunos começaram a fazer coro ao primeiro infeliz, “Yeah, Teacher, cu”... corri os olhos pela sala em busca de alguma luz, pois eu começava a entrar num vácuo existencial e profissional... parei de falar em inglês e perguntei se eles estavam brincando e fazendo hora com a minha cara e aquele primeiro ainda enfatizou, “É cu de legal, Teacher!”. Eu continuava passada com aquilo e guinchei, “LEGAL?! Como assim??? Se te pergunto ‘Como foi a festa ontem?’ você me responde que foi um cu porque estava muito legal???”, e eles que começaram a me olhar confusos com o meu espanto e tentavam me explicar que era “cu de legal, bom, ‘nice’”.

Eu encostei no canto da parede e me agachei abraçando o manual do professor querendo morrer, como expliquei acima. Eu realmente fiz isso num ato de desespero. Não conseguia entender o parâmetro daquele bando de vândalos que zombavam do idioma e do meu trabalho e também da confiança que lhes dera... até que um iluminado se empenhou em me tirar do umbral que eu adentrara e me olhou nos olhos, “Teacher, você não está entendendo, não é ‘cu’, é ‘cúulll’”... ainda fiquei olhando para este resgatador de almas por alguns segundos tentando processar seu esclarecimento e quando finalmente entendi comecei a rir e da posição de cócoras que me encontrava me larguei no chão e tive um ataque de risos, daqueles que se chora e a barriga dói! Desde o início eles estavam se referindo à palavra “cool” que, sim, significa “legal, bacana, maneiro”, e felizmente eles estavam certos desde o início, mas pela preguiça de aprimorarem suas pronúncias cometeram esse ato falho e fizeram a Gretchen.

É claro que depois disso eu perdi o controle da aula e entramos todo em estado de graça, rimos muito da situação, mas aproveitei o ensejo para dar uma esculhambação na pobreza da pronúncia, que isso era obrigação deles durante o curso e alertei que eles recebem notas por isso e dependendo de onde estivessem poderiam se constranger publicamente. No final, todo esse imbróglio serviu como ótima lição e ficamos todos positivamente espantados!

Você que estiver lendo, sempre se lembre disso ao se comunicar em outro idioma: aprimorar a pronúncia é muito importante, mas faça isso com leveza sem a cobrança de falar igual a nativos do idioma, porque isso só eles fazem mesmo. O que podemos fazer é nos dedicarmos para falar o melhor possível dentro das nossas habilidades e até onde o nosso próprio idioma permitir  também, caso contrário, aí sim as coisas podem ficar um cu!! HAHAHA!!!!

Eu poderia falar um monte de coisas sobre esse assunto, mas aí é falar do meu trabalho e eu estou de férias!!! Em agosto, quem sabe, porque agora eu vou caminhar na Beira-mar Norte!

Beijundas,

Flávia Criola

domingo, 13 de julho de 2014

2 anos!

Caramba! Hoje faz dois anos que me mandei para Floripa!



22 anos atrás eu e minha família passamos por aqui durante as férias e foi amor à primeira vista. Fomos direto à praia da Joaquina, onde tirei a foto (cafona, diga-se de passagem), e este lugar sempre foi especial pra mim. Fico feliz depois desses dois anos por saber que minhas expectativas não estavam erradas, me sinto bem e em casa. Me lembro direitinho tudo o que sentia quando saí de Vitória para vir para cá, cheia de confiança, minha mãe, e eu, chorando no aeroporto, TODAS as minhas amigas de trabalho me desejando o melhor, muitas certezas e um plano muito bem traçado. Mas É CLARO que nem tudo saiu como eu previ! Clássico... Mas isso é muito bom para ajudar a lembrar que não dá para manter sempre os sonhos, ou planos, ou como se quiser chamar.

Eu não gosto muito dessas frases feitas: “o que tiver que ser, será”, ou, “se tiver que ser seu, vai ser”, “o que é seu está guardado”,  “não estava na hora”,e a pior, “não era para ser”... para mim são o consolo mais inútil que existe, e nesses últimos dois anos as ouvi muito... TODAS elas...  mordo minha língua para dizer que há um fundo de verdade nisso tudo. Para eu ter escrito isso dá para deduzir que as certifiquei na prática, e houve momentos que eu quase desisti e pensei em voltar para a terrinha, mas ainda bem que não fiz isso. Não vou ficar aqui narrando minhas aventuras e desventuras na Ilha da Magia, como Florianópolis é carinhosamente apelidada, mas vou compartilhar algumas das conclusões a que cheguei:

- tenha sempre um plano B, SEMPRE! Temos que estar preparados para as coisas não darem certo, por mais otimistas que sejamos e estejamos em qualquer empreitada.
- sua família é quem mais vai te apoiar, não tenha dúvidas, ainda que te esculhambem durante algum vacilo seu, mas são as pessoas que vão segurar todas e as últimas pontas.
- não adianta querer correr contra o tempo, o ritmo deve ser devagar e sempre.
- as pessoas que são conectadas a você espiritualmente VÃO ao seu encontro e onde quer que esteja vai fazer amigos que vão estar com você em qualquer lugar.
- fazer amizade com motorista e trocador de ônibus é sempre um bom negócio!
- e se quando você chega ao terminal o seu ônibus está prestes a sair e você está correndo na direção oposta a dele, é só correr na frente dele porque assim o motorista não vai poder te atropelar e vai ser obrigado a abrir a porta!
- alunos são alunos em qualquer lugar do mundo, e quanto mais dinheiro suas famílias têm mais difíceis são. Ah, e não estão nem aí para o esforço que você faz para o aprendizado deles. Mas se você der a sorte de lecionar uma turma de pessoas especialmente legais, você viverá os melhores momentos em sala de aula.
- não importa o quanto você se esforça por algo ou alguém, se você estiver lidando com pessoas egoístas, só vão ver aquilo que lhes interessa. Há pessoas que passam por cima dos seus sentimentos, se for necessário, para não dar o braço a torcer que estão errados. E se alguém é injusto com você, não vai doer nada ignorar esta pessoa, ela já fez isso, não acha?
- e NÃO PERCA seu tempo se vingando de ninguém, o mundo dá conta disso e você não suja suas mãos nem sua consciência! Aliás, consciência limpa e tranqüila é o melhor calmante.
- comprar na feira é melhor!
- homens... aaah, os homens... gostam de controlar a situação, podem até estar envolvidos, mas se fazem de machões... tolinhos...
- ser sozinha e estar sozinha são coisas completamente diferentes, e há maneiras de driblar as duas situações para não pirar. Vá arrumar seu quarto, faça uma horta, adquira um hobbie, leia boas coisas, vá caminhar num calçadão.
- as coisas que devem ser nossas de fato vêm até nós e ninguém tira.
- a maturidade que se adquire depois de momentos difíceis é impagável!
- a felicidade é uma vadia que anda sempre do seu lado, escondida, e no momento que você desiste ela parte para cima e te agarra de surpresa e com todos seus braços, bandida!
- casa é onde você está!

Foi como eu disse para minha prima hoje, “nada aconteceu como planejei, mas gosto de como as coisas estão”. Temos que aceitar a vida com todas as suas coisas, boas e ruins. O sentimento maior que tenho hoje é de gratidão, a tudo e todos. Pelo menos mais dois anos eu sei que ainda fico aqui, já que vou fazer o mestrado, finalmente. Espero que as coisas que aprendi sirvam para mais alguém.

Divida sempre as coisas boas, perca o medo da derrota e aprenda sempre, em qualquer situação!

Um beijo!


Flávia Criola

domingo, 1 de junho de 2014

E agora, Zé?!



Pois é, hoje é aniversário do José Ary, meu afilhado que faz 22 anos!

Ele ganhou esse nome por causa de uma promessa que sua mãe, minha tia, fez que se ela tivesse um filho com saúde o chamaria de José, por causa do pai de Jesus, esses dois caras na foto acima. Todo mundo o chama de Dudu, mas desde muito pequenino eu o chamo simplesmente de Zé. Ele trouxe muita alegria para nossa família e sua mãe adotou meus pais como seus avós e eu o batizei. 

O que eu sabia quanto a ser madrinha de alguém? Eu tinha apenas 15 anos, mas claro que eu aceitei a honra e quando ele tinha três meses foi do Rio de Janeiro, onde nasceu, para Vitória para a cerimônia e no momento que o vi me apaixonei completamente! E acho que ele já me conhecia, pois eu estava deitada com ele, paparicando, conversando e ele ria e fazia sons que parecia que conversava comigo! Naquele momento eu vi que construiria uma linda história de amor com aquela pessoinha! 

Ser madrinha é uma linda tarefa complicada, porque ao mesmo tempo que se tem a tarefa de educar, juntamente com os pais, eu não tenho o direito de interferir na vida daquela criança. Mas eu fui e ainda sou uma madrinha muito feliz, porque meu afilhado é um cara muito bacana, descolado e engraçado. Às vezes ele faz coisas que me dá vontade de trucidá-lo, arrancar todos os seus pelos do corpo e depois jogar álcool com sal para arder bastante, pegar uma varinha da goiabeira da casa da minha mãe e dar uma coça nele, mas imagino que ele também deve querer me ver à distância, pois eu sou uma chata convicta.

Aqui em Florianópolis eu trabalho na cidade vizinha chamada São José e ontem eu fui passear no calçadão e cheguei ao parque onde tem essa imagem gigante do santo que dá nome à cidade e instintamente fiz a seguinte pergunta ao olhar para ela: e agora, José? O que eu faço de tão longe? O que eu dou para meu menino no dia dele? A resposta veio em música do meu mp3, "Ordinary Love" do U2, o amor comum. Esta música tocou nos meus ouvidos como uma oração de tudo que eu possa desejar para você hoje, e fiz apenas algumas adaptações da letra para exprimir todos meus desejos!


O mar quer beijar a costa dourada e a luz do sol aquece a sua pele
Toda a beleza que já foi perdida antes quer nos encontrar novamente
Não consigo mais lutar contra você, é por você que eu estou lutando
O mar pode atirar pedras, mas o tempo nos deixa pedras lapidadas

Não podemos mais nos apaixonar se não podemos sentir um amor comum
E não podemos alcançar mais alto se não soubermos lidar com um amor comum.

Os pássaros voam bem alto no céu do verão e descansam na brisa
O mesmo vento cuidará de você e de mim e construiremos nossas casas nas árvores
Seu coração está na minha manga, você o colocou lá com uma caneta mágica?
Por anos eu acreditei que o mundo pudesse levá-lo embora

Não podemos mais nos apaixonar se não podemos sentir um amor comum
E não podemos alcançar mais alto se não soubermos lidar com um amor comum.

Será que estamos mais fortes a esta altura, e preparados para o amor comum?


Em inglês dizer que "tem o coração na manga" é o mesmo que expressar seus sentimentos abertamente, e o seu coração está na minha, e sei que o meu está na sua!

Procure a resposta para esta última pergunta que a música propõe, o quão forte você é, para sempre driblar as fraquezas da vida, a resposta "está na sua manga"! ;)

EU TE AMO, meu filho! Feliz aniversário!

Dindinha



terça-feira, 22 de abril de 2014

Ponto de Luz


Eu vi uma Luz
Pequena, porém constante
Também de belo semblante.

Se distingue a Luz?
Sim. Ah, sim!
Se mede a Luz?
Sim. Ah, sim também!

É distinta e medida pela proporção que ela te clareia
E pela pouca sombra que te permeia.

Se acreditares que cada Ponto de Luz torna-se único e distinto
Tudo ao seu redor fica mais bonito
Ficando possível seguir adiante,
Pois seu caminho está mais radiante.

O que me importa se esta Luz é grande ou pequena?
Me importa que seu brilho me deixe mais serena!
Também me importa que esta Luz cresça
Para que assim meu coração se aqueça!


Mesmo de longe és a Estrela mais brilhante do meu céu
Tamanha é sua beleza
Banhada por ti não temo estar ao léo
Sou solo fértil que precisa de ti para se fortalecer
E as flores que de mim brotam
SÃO TODAS COLHIDAS PARA VOCÊ!


Feliz Aniversário, minha Luz!
EU TE AMO!

Didi

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Vamos Legalizar o Racismo!

Quando tomei conhecimento do caso do menor infrator que foi linchado, em seguida foi desnudado e depois amarrado em um poste eu senti um soco no estômago, confesso que me senti exposta por aquele menino.  Não defendo o crime que ele cometeu e acho que ele deve repreendido, ou sofrer qualquer ação corretora  de acordo com o que diz a lei, mas que no fim a tão almejada justiça dos linchadores seja feita, DE FATO!

Estou horrorizada ao ver pessoas se manifestarem em redes sociais e em rodas de amigos dizendo que neste caso a "justiça foi feita" e que "vagabundo tem que se foder mesmo e levar porrada", tá, cada um com sua opinião, mas a consumação disso me faz voltar no tempo, mais precisamente a 1780 a.C. na Babilônia, onde a Lei de Talião, também conhecida como "olho por olho", tem os primeiros indícios do seu uso, registradas no Código de Hamurabi, de acordo com o Wikipedia. Ou seja, estamos no século XXI e as pessoas ao invés de evoluírem estão recorrendo a leis  primitivas, enquanto deveria haver um movimento pelo aprimoramento do que está sendo executado de forma errada.
Eu sei que é utópico achar que as leis vão ser corrigidas e acertadas da noite para o dia, mas que se inicie um movimento em direção ao futuro e não voltar ao passado para teorias que já caíram por terra e não têm efeito mais.

O que se passa na cabeça dessas pessoas? Alguns alegam que os crimes acontecem por falta do acesso à educação, e linchar é a presença dela?

Você que defendeu o linchamento desse menino:

Além de RACISTA você é IDIOTA! Se você acha que ele merecia punição, concorde com que ele fosse entregue para a polícia, mas não concorde com "justiceiros" que saem agredindo pessoas em nome da "justiça" POIS VOCÊ ESTÁ SENDO TÃO CRIMINOSO QUANTO QUEM CONDENA!

Acha que estou dando um chilique? Achei no blog US Slave uma foto que acredito que possa ser do século XIX:

Naquela época esse ato cometido em praça pública com todos ao redor de acordo era considerado "justiça", isso há mais de um século. Te lembra alguma coisa?



Ainda não?


Essas fotos falam por si.

A esses "cultos" super informados e "defensores da justiça" eu sugiro que assistam dois filmes e reflitam bastante sobre os seus conceitos de justiça. O primeiro é 12 Anos de Escravidão e o outro é Tempo de Matar. Ambos mostram como a justiça age diferentemente quando o criminoso é negro e quando é branco, e como a tolerância e opinião social muda muito dependendo da cor da vítima. E depois que assistirem lembre da cor da pele de quem tem acesso à educação e ao poder, e quem está fora das escolas e dentro das cadeias no Brasil, "um país de todos"...

Sendo eu mesma afro-descendente, jamais poderia me calar mediante essa estupidez coletiva.

FLÁVIA CRIOLA.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O cara do dia!

Pois é, né, gente, hoje em dia todo mundo celebra o dia de São Valentim, ou Valentine's Day. Calmaê, calmaê, eu não sou contra não, acho o maior barato essa integração de culturas, sempre aproveito a data para ensinar a história e os costumes para meus alunos! Mas quem foi esse cara? Fiz um pequeno apanhado de dados e juntei aqui para nós!

Este é o meu santinho de São Valentim que trouxe da Irlanda. Para maltratá-lo,
como se faz com St. Antônio, eu o deixo grudado na porta do meu frigobar,
e o imã diz "tolo astucioso"! (não está funcionando) 
 Ele foi um padre romano no tempo do Imperador Claudius, O Godo, que perseguia a igreja e proibia o casamento de pessoas jovens baseado na hipótese que soldados solteiros lutavam melhor que os casados porque estes poderiam temer pelas suas esposas caso eles viessem a morrer. Aí que entra o Vavá, ele casava os apaixonados em segredo!!! OOOOOUUUNNNN!!! Eventualmente ele foi capturado, torturado e condenado à morte. Esta é uma das histórias que são contadas sobre o santo e também é a mais facilmente encontrada quando se faz uma pesquisa aqui pela internet (*).

Uma outra lenda muito contada também é que durante suas últimas semanas de vida um carcereiro do imperador, sabendo das habilidades curativas de Valentim, levou sua filha cega, Júlia, até sua casa e pediu sua intervenção, e ele a examinou e tratou seus olhos com unguento e remarcou visitas. Com o tempo ele começou a lhe lecionar história, aritmética, falava sobre Deus, de modo que ela pudesse ver o mundo através de suas palavras. Ela acreditava que se livraria da cegueira e eles oravam juntos para que isso acontecesse, embora não tenha ocorrido, mas a menina e seu pai nunca perderam sua fé. Até que um dia os soldados romanos prenderam Valentim devido suas práticas secretas e os tratamentos que oferecia. O pai da menina quis intervir em seu favor, mas não havia nada que pudesse fazer. Sabendo que sua execução era eminente Valentim pediu ao carcereiro por papel, pena e caneta para escrever uma carta de despedida para Julia na qual ele pedia que ela não se afastasse de Deus e assinou "do seu Valentim" (em inglês, from your Valentine). No dia seguinte, 14 de fevereiro do ano 269 d.C., ele foi executado. Suspiro... Esta é a minha lenda favorita! (**)

Há quem diga que ele se apaixonou por ela e por isso o desespero ao escrever a carta.

Na Europa e nos EUA os enamorados trocam presentes, flores e chocolates, mas a tradição não se restringe apenas a eles. É muito comum enviar cartões para amigos com mensagens queridas e algumas vezes pode-se assinar apenas "do seu Valentim", para brincar com a pessoa e ela ter que descobrir.

Church of Our Lady of Mount Carmel,
Whitefriar Street, Dublin, Ireland.
Em Dublim, capital da Irlanda, existe a Igreja de Nossa Senhora do Carmo na Whitefriar Street, na qual há um pequeno santuário para São Valentim e onde se encontra um relicário com parte dos restos mortais do santo levado para Dublim em 1835 pelo frade carmelita irlandês John Platt (**) em uma visita sua a Roma, mas o atual santuário foi construído na reforma que a igreja sofreu na década de 1950. Uma curiosidade: nesta mesma igreja há uma imagem de Nossa Senhora de Dublim, e é uma imagem negra, tal qual Nossa Senhora Aparecida.



O santuário
Eu tive um encontro particular com Vavá! Em janeiro de 2012 eu fui a Dublim e ao saber do santuário É CLARO que fui lá! Abaixo da imagem do santo fica um balcão que guarda o relicário e sobre esse balcão fica um caderno onde podemos, ham-ham, escrever seus pedidos. Apesar de isso parecer  apelativo tive uma surpresa muito agradável ao folhear o tal caderno: não há apenas pedidos, muitos retornam e agradecem por seus casamentos e até por conceberem seus filhos. Fiz meu pedido também, É LÓGICO, e não pedi só por mim, incluí amigas e amigos - 4 já se deram bem! menos eu... MAS, na mesma viagem eu tive uma surpresa muito agradável durante a mesma viagem, mas isso é babado para ooooutro post! Não me restringi apenas a escrever o pedido: acendi uma vela, a prova está abaixo, doei um euro para a igreja, coloquei a mão no vidro do balcão com o relicário e na hora que saí da igreja tinha um tonel de água benta gigante, enchi uma garrafa e bebi tudo num gargalo só!!! Depois eu fui à lojinha da igreja comprar lembrancinhas e um senhor me doou vários santinhos de São Valentim, e vou fazer um joguinho com vocês:

Me envie sua história de amor e as 5 mais bonitinhas eu não só vou publicar aqui no blog como também vou enviar um santinho desses que trouxe da Irlanda com um presentinho via correio. O e-mail do blog é flaviawk@gmail.com, apenas deixe um recado nos comentários quando de enviar, ok?! Anonimidade garantida caso seja essa a sua vontade.

Desejo muito amor aos apaixonados e nós que ainda não encontramos não percamos a esperança de encontrar o amor de verdade nessa vida!!!

Muitos beijos, flores e chocolates para todos vocês!!!

Flávia Criola

Eu no Santuário de S. Valentim na Igreja do Carmo, Janeiro 2012

O verso do santinho que ganhei na igreja, a oração diz:
"S. Valentim, toque o coração de nossos jovens;
interceda por nossas necessidades;
ouça a minha prece."


Referências

(*) http://www.cbn.com/spirituallife/ChurchandMinistry/churchhistory/st_valentine_the_real_story.aspx
(**) http://www.carmelites.ie/stvalentine.html


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Dez Maneiras de amar a nós mesmos!

Muitas vezes este tipo de post fica batido e até meio cliché, mas eles fazem sentido. Nessa semana estive em um lugar muito especial e fui presenteada com esta mensagem, pode parecer fácil, mas não é... Para podermos alcançar maior intimidade com nós mesmos precisamos de muita introspecção e determinação, sem contar o desprendimento necessário daquilo que nos rodeia. Mas temos que ser fortes no aprimoramento de nós mesmos.

Sugiro que faça como eu: coloque uma música relaxante de sua preferência, leia esta mensagem e reflita por onde começar para mudar o que tem de bom para ser melhor e assim, pouco a pouco, fazer as pazes com a pessoa do outro lado do espelho. Se gostar, acenda um incenso de fragrância suave.

Vamos praticar juntos?!

1. Disciplinar os próprios impulsos.
2. Trabalhar, cada dia, produzindo o melhor que pudermos.
3. Atender aos bons conselhos que traçamos para os outros.
4. Aceitar sem revolta a crítica e a reprovação.
5. Esquecer as práticas alheias sem desculpar as nossas.
6. Evitar as conversações inúteis.
7. Receber no sofrimento o processo de nossa educação.
8. Calar diante da ofensa, retribuindo o mal com o bem.
9. Ajudar a todos, sem exigir qualquer pagamento de gratidão.
10. Repetir as lições edificantes, tantas vezes quantas se fizerem necessárias, preservando no aperfeiçoamento de nós mesmos sem desanimar e colocando-nos a serviço do divino mestre, hoje e sempre. (Do livro Paz e Renovação psicografado por Chico Xavier de vários espíritos, capítulo 33)

Ainda vou sugerir uma décima primeira de minha autoria:

11. Não se prive de estar só consigo mesmo, é no silêncio e na solidão que ouvimos melhor o que há dentro de nós, e na maioria das vezes temos mais coisas boas do que sabemos e não fazemos uso delas nem em nosso próprio benefício. Estar só é um encontro com a sua própria essência, conheça-a!

Paraty, RJ - 2000.


Boas energias para nós!

Flávia Criola

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Meu encontro com Iemanjá

Depois de muito tempo sem publicar eu finalmente o fiz, e o melhor, desta vez trago uma narrativa em tom muito pessoal, compartilhando um encontro mais que especial!






Eu sou muito ligada à minha herança africana, eu sinto isso muito pungentemente em minha alma, não foi a toa que abracei o apelido de "Criola" tão facilmente. Sendo assim, ir de encontro aos cultos afro foi natural, a mitologia africana, por assim dizer, me fascina de uma forma inexplicável e ouvir os tambores e pontos fazem meu coração acelerar.

Todos os anos eu tenho a necessidade de ir ao mar no dia de Iemanjá, seja para um banho, para uma oração, ou jogar suas flores e meus pedidos. Este ano, já tinha certeza que minha preguiça não me deixaria sair de casa, até que uns amigos me convidaram para visitar outros amigos, a Fabi e o Rodrigo, pais da fofa da Monique, no sul da ilha aqui em Florianópolis na Costa de Dentro, próxima da Praia da Solidão. Esse nome ainda vai ter graça no final dessa história.

Praça de Santo Antônio de Lisboa, SC, e ao fundo,
Arnaldo Antunes durante seu show!

Na verdade, toda essa vibe positiva que sinto com a data de hoje começou ontem, fui com os mesmos amigos que me tiraram de casa hoje, Fabrício e Peter, ao show do Arnaldo Antunes em Santo Antônio de Lisboa, meu lugar preferido aqui na ilha. O show foi em uma praça dentre copas de árvores, num fim de tarde lindo. Quando cheguei em casa eu sentia sono cedo, coisa que raramente me acontece.

Chegamos aqui na hora do almoço e com o calor absurdo que faz aqui em Floripa é claro que tínhamos que tomar uma cerveja antes de almoçar. E foi aí que tudo começou. Como eu estava de barriga vazia a cerveja somada à leseira que este calor trás eu facilmente fui sentindo aquela lombeira que dá depois do almoço, só que eu ainda estava durante o almoço. Estava tão sonolenta que pedi licença da mesa e sequer tirei meu prato. A Fabi me encaminhou para o quarto da Monique e eu desmontei, dormi O sono da tarde. Não me lembro a hora que dormi, devia ser por volta das 15:30, só sei que acordei, com muito custo, às 19:45.

Nesse sono, eu tive um sonho muito intenso, daqueles que você acorda confusa porque o sonho parece realidade. E eu sinto tato, olfato e paladar durante o sonho, e hoje foi mais intenso porque sonhei com meu pai, falecido há quinze anos, minha avó e tios que também já faleceram estavam no sonho, junto com o restante da minha família. Estávamos todos em clima de festa e harmonia, estávamos todos aqui na casa da Fabi, e celebrávamos, só não me lembro o quê... Só sei que quando acordei o Fabs e o Pete tinham saído para fazer uma trilha aqui perto, e embora fossem quase oito horas da noite, o céu ainda estava muito claro, não só pelo horário de verão mas porque aqui anoitece mais tarde mesmo, se comparando com Vitória, minha cidade natal. Eu sentei para bater papo com a Fabi, mas eu estava ainda confusa com a minha sesta, e decidi que iria à praia dar um mergulho.

Só disse à Fabi que estava indo e saí daqui como uma autômata. Peguei a pequena rua que leva à praia com uma caminhada rápida e ao mesmo tempo que admirava a mata ao longo do caminho, as casas rústicas, eu sentia como se um imã gigante me puxasse para a praia, e eu não parava de andar, parecia que alguém de fato me esperava na praia. 

Quando cheguei fui direto para a água. Estava gelada, mas a energia do momento era maior do que qualquer desconforto que isso pudesse trazer. Fui com a água até os joelhos e comecei a entregar tudo que sentia no meu coração, pedi à Iemanjá que levasse qualquer medo, dor, preguiça e maldade de dentro de mim, que aquele banho me fortalecesse e que eu fosse inundada de paz. Mergulhei e o choque da água fria foi revigorante e quando me levantei novamente olhei ao redor e aquela imagem jamais sairá de mim: à minha direita duas montanhas à beira-mar lindíssimas com o céu rosado do pôr do sol ao seu lado e a água do mar estava bem calma e prateada. Dei uma volta de 360° e quando olhei para a terra o céu ainda tinha tons de azul quase claro e a lua crescente já brilhava, bem fina, a minha lua favorita! Ainda dei muitos mergulhos e agradeci a Deus por aquele momento mágico, e por tudo que tenho na minha vida, tudo! E fiz o pedido que estava mais forte no meu coração: pedi que neste ano eu encontre o amor, mas não qualquer amor, aquele amor que todos me dizem que está guardado em algum lugar.

Quando saí da água já estava quase escuro e tive vontade de ficar mais ali, na Praia da Solidão, e me sentei. Havia outras pessoas, mas fechei meus olhos e pela primeira vez na vida eu tive a sensação de realmente meditar. Fui perdendo meus sentidos e meu corpo não era mais meu. Tive a impressão de ir a algum lugar mas eu não saberia descrevê-lo agora. Quando percebi que estava nesse estado de transe levei  minha mão esquerda à fronte, no terceiro olho, e me concentrei, e novamente não sei dizer o que pensei, só sei que quando abri os olhos eu me dei conta que estivera ausente, e me assustei por me ver na praia novamente. Agora entendo quando dizem que quando meditamos não podemos pensar em nada e fico feliz que isso tenha acontecido tão espontaneamente. Quando me levantei para vir embora ouvi bem de longe batuques de tambores bem de longe. Se esse som estivesse mais próximo eu teria ido ao seu encontro.

Quando eu voltava para a casa da Fabi eu novamente contemplei a vizinhança, e pela primeira vez na vida tive vontade de morar em um lugar ermo como é a Costa de Dentro, e pela primeira vez eu me senti como parte daqui de Florianópolis, apesar de sempre ter me sentido em casa nesses um ano e meio que estou aqui, mas hoje eu me senti um pedaço da ilha, isso me trouxe um estado de plenitude indescritível. O que achei mais graça nisso tudo, como anunciei no início deste post, foi que eu tive que sentir este sentimento de pluralidade, se é que foi isso que senti, em um lugar chamado Praia da Solidão, pois em momento algum eu estava só ali, eu estava comigo mesma! Tomei um banho de ducha ao ar livre na frente da casa e logo pensei que tinha que escrever isso, compartilhar esse sentimento mágico que tomou conta de mim!

Se eu estivesse em Vitória hoje teria ido ao pier da Iemanjá em Camburi jogar meus pedidos e flores brancas, comer comida de santo e depois tomar um passe na areia da praia, mas sei que captei toda a energia positiva que teria recebido se tivesse estado lá, e sei que ao me deitar agora vou dormir um sono tranquilo e iniciar esta semana de retorno ao trabalho depois das férias me sentindo muito melhor!

Odoyá, Mãe Iemanjá! E muito Axé para todos nós!!!

Um beijo e um abraço, 

Flávia Criola


Imagem de Iemanjá na Praia de Camburi, ES.
Foto cedida pelo lindo do Bruno Guerra Menahem.

Pequenos passos

 Como tem sido nos últimos meses, mais uma vez eu já acordei cansada. Mas, era mais um cansaço emocional, porque fisicamente eu estava bem. ...