Rascunho de um conselho
A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa que sofre de
ansiedade é esperar que ela se desculpe por sua doença.
Se você não tem paciência para conviver com uma ansiosa,
apenas não o faça. Abra a o jogo, diga a verdade, cause a dor da sinceridade,
mas não permita que uma ansiosa sinta culpa por sua condição porque você é
incapaz de se ajustar à realidade dela.
O que mais ouço: “É muito difícil entender o seu problema”. A
pergunta que nunca devolvo é: “Será tão difícil quanto sofrer dele?”. A
resposta não interessa a ninguém, portanto eu nunca a saberei.
Há muitas coisas que me cansam dentro desse dilema, mas nada
me cansa tanto quanto me sentir culpada por uma condição que não escolhi,
porque não adianta explicar, ou sequer pedir que entendam, a decisão de as
pessoas entenderem não é sua.
Me recuso sentir essa culpa, de verdade, seja lá quem for
que está com raiva de mim depois que perdi meu controle; enquanto outros sofrem
com seu ego ofendido, eu sofro das dores e da tormenta. Ansiedade não é apenas
sobre sentir medo, há a dor além da alma: no ápice da crise seu corpo é
bombardeado com um combo de sentimentos: medo, vergonha, angústia, remorso,
raiva, autopiedade... e até encontrar algo que te distraia do ataque podem-se
passar 5 minutos, ou 5 horas. Enquanto isso, há dor no peito, na nuca e na fronte,
no abdome, ânsia de vômito, taquicardia, respiração ofegante, sudorese, boca seca.
O fim da crise nem sempre traz alívio, muitas vezes deixa
uma ressaca. A adrenalina não te controla mais, então os músculos cedem e doem,
muito. A dor de cabeça passa, mas tudo é uma confusão só, não consigo me
concentrar em nada. Meus olhos ficam pesados, como se meus globos oculares ficassem
inchados. A letargia é generalizada. Ou seja, ressaca.
Para além do rebote físico, há também a ressaca moral. Mais uma
vez eu perdi o controle, me excedi, gritei, explodi... e aqui entra a culpa.
Culpa por existir? Sim, pois eu existo apesar da dor, ela é
parte de mim. Minha convivência comigo mesma melhorou muito depois que aprendi
a abraçar essa dor, pois no momento que a acolho, também acolho a mim. Mas então,
pergunto novamente, culpa de quê? Por que não sou capaz de viver os meus
problemas apenas para mim? As vezes eles excedem os espaços do meu corpo e da
minha alma, preciso dividi-los com alguém. Não precisa tomar para si, pode
lidar com ele como se faz com uma revista de consultório médico: segure, olhe,
leia e quando terminar é só deixar onde encontrou, alguém vai recolher. Ainda que
seja uma revista velha, ela te ensinou alguma coisa naquele momento, com a
minha dor é a mesma coisa. Veja, leia, folheie e devolva, eu seguirei com ela,
mas por uns instantes eu a dividi com você. Era só isso que eu queria. Era só e
somente isso que eu precisava. A vida segue.
Eu não tenho culpa e jamais vou permitir esse sentimento,
nunca mais. Não há do que me desculpar. Há, apenas, a necessidade de prosseguir
e a única coisa que carrego é a dor, pois a ocorrência dela independe da minha
vontade. O seu incômodo, não, ele é só seu, a mim cabe apenas ignorá-lo.
Se eu pudesse dar a outra ansiosa um conselho sobre ter
ansiedade: não tenha. Mas enquanto essa decisão não é sua, tenha, acima de
tudo, coragem para ignorar tudo aquilo que não é seu, e prossiga. Sim, prossiga!
Esse é o conselho.
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