terça-feira, 27 de abril de 2021

pequeno texto de apreciação


quando ainda estava na graduação, início dos anos 2000, jamais poderia imaginar que me apaixonaria por literatura, muito mais por poesia.

minha primeira aula foi “teoria da literatura – lírica”, e nos primeiros 10 minutos de aula tive certeza de que fracassaria naquele recém iniciado empreendimento (afinal, fiz faculdade particular). me entreguei à disciplina – não tinha muita opção, entrei “velha” na faculdade, “já tinha” 23 anos – e consegui entender o que a professora dizia. me apaixonei pelo texto lírico. porém, apenas no último ano da graduação eu descobri por que eu me encantara pela poesia, eu seria apresentada ao poeta americano e.e. cummings.

modernista, rompeu com a tradição escrita lírica e estrutural, foi inovador com seu estilo, burlava regras de gramática e as palavras se tornavam suas, uma vez que brincava com suas estruturas e significados na criação de seus poemas concretos e vanguardistas.

seus poemas são comumente considerados de difícil compreensão, mas minha paixão era tamanha que me sentia desafiada por eles – o poeta e seus poemas; eu queria ler, ler e reler até me fundir com seus significados e fazer com que eu me formasse deles. dentre os poemas que estudamos em sala, o que me fisgou definitivamente foi “since feeling is first”.

resumidamente, o poema diz que sentimento deve ser prioridade na vida, e que semântica que mais importante que sintaxe, pois quem muita atenção a ela dá, à sintaxe, pouco da vida aproveita.

sentimento e semântica são o que não se vê, mas que se entende.

honestamente, toda aula, seja qual for o seu conteúdo, deveria usar essa lógica como regra máxima. ainda que levianamente, aplico isso na minha prática diária ao conduzir alunas e alunos a seus objetivos, tento fazer com que leiam além do texto escrito.

“since feeling is first” foi fundamental para minha formação enquanto professora, muito mais do que consigo explicar. precisei escrever este humilde texto de apreciação para compreender que esse poema sempre foi o meu mote, seu significado estava escondido em mim e só agora entendo por que cummings me instigava tanto. lírico, não? seu desdém pela norma culta se assimila ao que há de mais visceral em mim.

são essas as coisas das quais mais fugimos na vida e que ao mesmo tempo estão bem claras bem nas nossas caras. Um dia explico isso melhor, por agora preciso ruminar o que acabei de conceber sobre mim mesma.

e isso, minha gente, é isso que a poesia faz: nos transforma. e o texto que era de apreciação a outrem, virou apreciação de mim mesma.


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