domingo, 2 de fevereiro de 2014

Meu encontro com Iemanjá

Depois de muito tempo sem publicar eu finalmente o fiz, e o melhor, desta vez trago uma narrativa em tom muito pessoal, compartilhando um encontro mais que especial!






Eu sou muito ligada à minha herança africana, eu sinto isso muito pungentemente em minha alma, não foi a toa que abracei o apelido de "Criola" tão facilmente. Sendo assim, ir de encontro aos cultos afro foi natural, a mitologia africana, por assim dizer, me fascina de uma forma inexplicável e ouvir os tambores e pontos fazem meu coração acelerar.

Todos os anos eu tenho a necessidade de ir ao mar no dia de Iemanjá, seja para um banho, para uma oração, ou jogar suas flores e meus pedidos. Este ano, já tinha certeza que minha preguiça não me deixaria sair de casa, até que uns amigos me convidaram para visitar outros amigos, a Fabi e o Rodrigo, pais da fofa da Monique, no sul da ilha aqui em Florianópolis na Costa de Dentro, próxima da Praia da Solidão. Esse nome ainda vai ter graça no final dessa história.

Praça de Santo Antônio de Lisboa, SC, e ao fundo,
Arnaldo Antunes durante seu show!

Na verdade, toda essa vibe positiva que sinto com a data de hoje começou ontem, fui com os mesmos amigos que me tiraram de casa hoje, Fabrício e Peter, ao show do Arnaldo Antunes em Santo Antônio de Lisboa, meu lugar preferido aqui na ilha. O show foi em uma praça dentre copas de árvores, num fim de tarde lindo. Quando cheguei em casa eu sentia sono cedo, coisa que raramente me acontece.

Chegamos aqui na hora do almoço e com o calor absurdo que faz aqui em Floripa é claro que tínhamos que tomar uma cerveja antes de almoçar. E foi aí que tudo começou. Como eu estava de barriga vazia a cerveja somada à leseira que este calor trás eu facilmente fui sentindo aquela lombeira que dá depois do almoço, só que eu ainda estava durante o almoço. Estava tão sonolenta que pedi licença da mesa e sequer tirei meu prato. A Fabi me encaminhou para o quarto da Monique e eu desmontei, dormi O sono da tarde. Não me lembro a hora que dormi, devia ser por volta das 15:30, só sei que acordei, com muito custo, às 19:45.

Nesse sono, eu tive um sonho muito intenso, daqueles que você acorda confusa porque o sonho parece realidade. E eu sinto tato, olfato e paladar durante o sonho, e hoje foi mais intenso porque sonhei com meu pai, falecido há quinze anos, minha avó e tios que também já faleceram estavam no sonho, junto com o restante da minha família. Estávamos todos em clima de festa e harmonia, estávamos todos aqui na casa da Fabi, e celebrávamos, só não me lembro o quê... Só sei que quando acordei o Fabs e o Pete tinham saído para fazer uma trilha aqui perto, e embora fossem quase oito horas da noite, o céu ainda estava muito claro, não só pelo horário de verão mas porque aqui anoitece mais tarde mesmo, se comparando com Vitória, minha cidade natal. Eu sentei para bater papo com a Fabi, mas eu estava ainda confusa com a minha sesta, e decidi que iria à praia dar um mergulho.

Só disse à Fabi que estava indo e saí daqui como uma autômata. Peguei a pequena rua que leva à praia com uma caminhada rápida e ao mesmo tempo que admirava a mata ao longo do caminho, as casas rústicas, eu sentia como se um imã gigante me puxasse para a praia, e eu não parava de andar, parecia que alguém de fato me esperava na praia. 

Quando cheguei fui direto para a água. Estava gelada, mas a energia do momento era maior do que qualquer desconforto que isso pudesse trazer. Fui com a água até os joelhos e comecei a entregar tudo que sentia no meu coração, pedi à Iemanjá que levasse qualquer medo, dor, preguiça e maldade de dentro de mim, que aquele banho me fortalecesse e que eu fosse inundada de paz. Mergulhei e o choque da água fria foi revigorante e quando me levantei novamente olhei ao redor e aquela imagem jamais sairá de mim: à minha direita duas montanhas à beira-mar lindíssimas com o céu rosado do pôr do sol ao seu lado e a água do mar estava bem calma e prateada. Dei uma volta de 360° e quando olhei para a terra o céu ainda tinha tons de azul quase claro e a lua crescente já brilhava, bem fina, a minha lua favorita! Ainda dei muitos mergulhos e agradeci a Deus por aquele momento mágico, e por tudo que tenho na minha vida, tudo! E fiz o pedido que estava mais forte no meu coração: pedi que neste ano eu encontre o amor, mas não qualquer amor, aquele amor que todos me dizem que está guardado em algum lugar.

Quando saí da água já estava quase escuro e tive vontade de ficar mais ali, na Praia da Solidão, e me sentei. Havia outras pessoas, mas fechei meus olhos e pela primeira vez na vida eu tive a sensação de realmente meditar. Fui perdendo meus sentidos e meu corpo não era mais meu. Tive a impressão de ir a algum lugar mas eu não saberia descrevê-lo agora. Quando percebi que estava nesse estado de transe levei  minha mão esquerda à fronte, no terceiro olho, e me concentrei, e novamente não sei dizer o que pensei, só sei que quando abri os olhos eu me dei conta que estivera ausente, e me assustei por me ver na praia novamente. Agora entendo quando dizem que quando meditamos não podemos pensar em nada e fico feliz que isso tenha acontecido tão espontaneamente. Quando me levantei para vir embora ouvi bem de longe batuques de tambores bem de longe. Se esse som estivesse mais próximo eu teria ido ao seu encontro.

Quando eu voltava para a casa da Fabi eu novamente contemplei a vizinhança, e pela primeira vez na vida tive vontade de morar em um lugar ermo como é a Costa de Dentro, e pela primeira vez eu me senti como parte daqui de Florianópolis, apesar de sempre ter me sentido em casa nesses um ano e meio que estou aqui, mas hoje eu me senti um pedaço da ilha, isso me trouxe um estado de plenitude indescritível. O que achei mais graça nisso tudo, como anunciei no início deste post, foi que eu tive que sentir este sentimento de pluralidade, se é que foi isso que senti, em um lugar chamado Praia da Solidão, pois em momento algum eu estava só ali, eu estava comigo mesma! Tomei um banho de ducha ao ar livre na frente da casa e logo pensei que tinha que escrever isso, compartilhar esse sentimento mágico que tomou conta de mim!

Se eu estivesse em Vitória hoje teria ido ao pier da Iemanjá em Camburi jogar meus pedidos e flores brancas, comer comida de santo e depois tomar um passe na areia da praia, mas sei que captei toda a energia positiva que teria recebido se tivesse estado lá, e sei que ao me deitar agora vou dormir um sono tranquilo e iniciar esta semana de retorno ao trabalho depois das férias me sentindo muito melhor!

Odoyá, Mãe Iemanjá! E muito Axé para todos nós!!!

Um beijo e um abraço, 

Flávia Criola


Imagem de Iemanjá na Praia de Camburi, ES.
Foto cedida pelo lindo do Bruno Guerra Menahem.

2 comentários:

  1. Lindo texto, Criola! Nada melhor do que sentir essa conexão com nós mesmos e com a natureza ao redor! Esse sem dúvida será um ano maravilhoso e o amor certamente irá florescer! Muita luz, amiga! Bj grande!

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