domingo, 10 de agosto de 2014

Dia dos Pais

Há quase 16 anos este dia, o dia dos pais, é um tanto triste para mim não apenas em virtude do falecimento do seu Edilberto, meu papai, mas porque foi exatamente hoje, 16 anos atrás, que lhe dei o último abraço, ele faleceu dois meses depois... isso me entristece tanto quanto a ausência física dele, que fiquei mais de dois meses sem abraçá-lo antes de sua partida. Me lembro direitinho, foi um abraço apertado na copa da nossa casa onde eu assistia televisão, ele entrou e me levantei prontamente. Lembro da força e do tato com que nos abraçamos e beijamos.

Verdade seja dita, eu tive uma convivência um tanto difícil com ele, herdei seu temperamento difícil, éramos dois bicudos e de acordo com o velho ditado não nos beijávamos muito, eu era uma tola de 21 anos que já se achava a adulta super madura que sequer estava na faculdade ainda e como uma boa tolinha me achava cheia de razão nas minhas convicções, ele não cedia nas implicâncias e eu também não dava o braço a torcer.

Pense comigo e com Renato Russo: "você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer?". A primeira resposta que pode nos ocorrer é "vamos ser pais também", sim, mas antes disso vamos ser adultos, e acima de tudo, independente da nossa idade, somos humanos e como tal sempre cometeremos erros, não importa o tamanho da sua experiência, cometemos erros e tomamos decisões erradas em qualquer momento das nossas vidas. Me sinto meio mãe dos meus afilhados e quantas mancadas já dei com eles, por que teria sido diferente com meu pai? Por que eu coloquei nele a culpa de tudo que deu errado no nosso relacionamento? Ele era tão criança quanto eu, éramos dois tolos merecedores de perdão. Como diz também a canção mencionada acima, "você diz que seus pais não lhe entendem, mas você não entende seus pais".

Felizmente eu o perdoei pelas coisas que me magoaram e me perdoei também pelas mágoas que eu sei que causei a ele, principalmente na minha dificuldade em entendê-lo, e muito mais por não ter dado mais beijos e abraços, por não ter apreciado mais os momentos bons, ainda que fossem poucos.

Hoje, por um momento, me esqueci da comemoração do dia, talvez pelos tantos anos sem celebrá-la, mas quando me lembrei inicialmente senti um aperto no peito e depois lamentei por ter desperdiçado tanto tempo. Me veio à memória um momento em que estava com muita raiva, mas felizmente, como em uma cena de filme esta imagem triste e desnecessária foi se afastando até sumir e comecei a lembrar de quando éramos crianças ele chegava do trabalho diariamente com o bolso cheio de docinhos causando ira na minha mãe porque ele os entregava antes da janta, eu e minha irmã corríamos para ele gritando com os braços para cima, "docinho, docinho!". Quando fazia graça para minhas amigas e as da minha irmã, da sua gargalhada de trovão, de quando cantava TODOS OS DIAS: "Morena de Angola" da Clara Nunes, "Não vadeia, Clementina" e "Don't cry for me Argentina", esta última a sua favorita, e dançava desengonçadamente com os braços para cima estalando os dedos, quando vestia uma roupa da minha mãe por pura palhaçada e do dia que ele amarrou sua dentadura num barbante e pendurou na parede do meu quarto e veio querendo me beijar sem dentes e corri com nojo e ele me encurralou de modo que eu encostasse na parede e naquela dentadura medonha e tirou o maior sarro da minha cara, ainda sem dentes, é claro, e eu não sabia se ria ou chorava de ódio! Esse era o meu pai!

É quase clichê dar este conselho, mas se é clichê é porque já deu certo: se está com raiva, se não se falam ou não interessa, dê um abraço e um beijo sem ressentimentos; se está longe dê um telefonema, não só hoje, sempre que tiver vontade e oportunidade, o vácuo entre esse contato e a impossibilidade de realizá-lo não tem tamanho. Se for o caso, perdoe e se perdoe, crie oportunidades de bom convívio, dê o braço a torcer, não seja vaidoso ou orgulhoso. Ainda citando a música do Legião Urbana,

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"

hoje é sempre o melhor momento para se fazer qualquer coisa que te traga alegria! Não é a toa que a canção se chama "Pais e Filhos". Quando tinha 14 anos tive a felicidade de ouvir esta música ao vivo em um show do Legião em Vitória e me lembro de ter chorado o tempo todo enquanto a ouvia, mas só fui entender seu significado muitos anos depois. Ouça-a, entenda-a, e coloque a mensagem que ela traz em prática!

Feliz dia dos Pais!

Flávia Criola





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