sábado, 7 de março de 2015

Meu lugar ao sol!

Praia da Galheta, Florianópolis, novembro de 2013
A primeira vez numa praia de nudismo não se esquece! No dia dessa foto eu estava na Praia Mole, uma das praias do leste de Florianópolis com amigos e amigas e resolvemos ir à Galheta, que é do lado, só é preciso pegar uma pequena trilha - só se chega lá assim. A Praia da Galheta é uma praia de nudismo, mas não dessas que você é obrigada a se desnudar e que tem fiscais vigiando tudo e todos, lá você fica nua se quiser.

Éramos quatro mulheres e três homens, e depois de uma tarde maravilhosa nos divertindo muito pegamos a trilha que tem uma das paisagens mais bonitas que já vi aqui. No momento que pisamos as areias da Galheta eu e mais duas imediatamente nos livramos de nossos sutiãs e vivemos a deliciosa sensação do topless! Era o fim da tarde, o sol estava brando, estávamos sentados na areia, continuando nosso papo tranquilamente e de repente todos nós visualizamos um homem que fazia nu total: olhamos, claro, mas ao mesmo tempo retornamos para nossa conversa, e o peladão continuou na sua curtição.

Resolvi mergulhar para desfrutar um pouco mais da minha liberdade semi-nua e sem que eu visse uma de minhas amigas fez essa foto maravilhosa. Se banhar no mar sem sutiã é delicioso, me sinto mais em contato com o todo, com a natureza, com uma a coisa a menos me restringindo, me amarrando e me impedindo de me sentir mais livre! Não foi a primeira vez fiz topless, mas infelizmente não posso fazê-lo com mais freqüência sem que eu corra o risco de ser presa, felizmente eu estava com pessoas de pensamento pós-moderno e que respeitam o direito de liberdade de todos os indivíduos.

Voltei para meu grupo e continuávamos nosso papo descontraído, me secava ao sol enquanto papeávamos, até que um dos meninos nos alertou que havia dois homens parados olhando para nós com os peitos de fora. A princípio tentamos ignorar, mas o mesmo amigo disse que eles continuavam olhando e que havia malícia em seus olhares, todos nós olhamos para eles mais uma vez e uma das minhas companheiras de topless, que tem o pavio curto, virou para eles e perguntou "ALGUM PROBLEMA?!", os dois fizeram cara de paisagem como se não fosse com eles e, se bem me lembro, disfarçaram, mas continuaram lá. Até que o namorado desse amigo que nos alertou, querendo nos proteger, sugeriu que nos vestíssemos, pois não sabíamos quem eram, e eu achei melhor que fôssemos embora.

Teria sido uma tarde perfeita não fosse a maldade daqueles dois idiotas, como se, a julgar pela idade que aparentavam ter, nunca tivessem visto peitos em suas vidas... e se eu comentar essa história o comentário mais provável que vou escutar - de homens e, o que mais me dói, de mulheres - é: "Se vocês não tivessem tirado os biquínis não teriam passado por essa situação"...

Hoje é o Dia Internacional da Mulher e em pleno século XXI ainda não conquistamos nosso lugar ao sol. Relembrar dessa tarde de topless me faz refletir que por mais que tenhamos avançado depois de tantos anos de luta pela nossa liberação ainda temos que lidar com esse tipo de comportamento pueril de homens e da sociedade adultos. Ainda preciso me impor para explicar questões feministas e usufruir o meu direito de ser feminista sem que isso me transforme no diabo.

Se é que hoje é um dia de se ganhar presentes (pela estúpida condição da natureza do meu sexo) o que mais quero além do fim da ignorância acerca do assunto e a conquista da igualdade de direitos é que minhas companheiras de gênero acordem para a realidade que nos cerca, que paremos de aceitar o machismo como a condição real do universo: nós mulheres precisamos ver o mundo com uma visão feminina, e por que não, feminista das coisas?! Temos que aprender a fazer o que Virginia Woolf diz em Um quarto todo seu (1929), onde ela defende o direito ao espaço da mulher no universo criativo e sugere que nós mulheres sejamos amigas das outras mulheres e nos defendamos contra todo o moralismo que quer nos dizer como devemos agir, para deixarmos um legado de empoderamento para nossas filhas, ou seja, as mulheres do futuro, para que dessa forma tenhamos esse espaço todo nosso para pensarmos e agirmos como quisermos, sem que nossas atitudes sejam pré-moldadas pelo pensamento patriarcal, para aí sim, sairmos ao sol, de topless ou não!

Nossas atitudes e nossos corpos são somente nossos e temos que ser conscientes da importância da luta e da aquisição dos nossos direitos à igualdade. Aí sim, terei prazer em ouvir: feliz dia da mulher!

Não tive receio nenhum de anexar minha foto a esta publicação, e sei que dentre os que vão acessar este texto, alguns vão fazê-lo talvez para ver se há fotos mais reveladoras, talvez alguns para saber o que eu fui caçar numa praia de nudismo, e sei que vai haver quem diga que sou doida ou que estou “acima do peso” para me expor assim. Mas sinceramente, eu amo essa foto! Além de ser a recordação de um dia muito legal me sinto mais parte da natureza ao ver a minha cor se misturando com a cor da areia, e sinceramente: estou muito linda, viva e em paz com meu corpo! Mas principalmente com a minha consciência que tenho o direito de colocá-la aqui!

Beijos, amigas!


Flávia Criola

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