Praia da Galheta, Florianópolis, novembro de 2013 |
A primeira vez numa praia de nudismo não se esquece! No dia dessa
foto eu estava na Praia Mole, uma das praias do leste de Florianópolis com
amigos e amigas e resolvemos ir à Galheta, que é do lado, só é preciso pegar
uma pequena trilha - só se chega lá assim. A Praia da Galheta é uma praia de
nudismo, mas não dessas que você é obrigada a se desnudar e que tem fiscais
vigiando tudo e todos, lá você fica nua se quiser.
Éramos quatro mulheres e três homens, e
depois de uma tarde maravilhosa nos divertindo muito pegamos a trilha que tem
uma das paisagens mais bonitas que já vi aqui. No momento que pisamos as areias
da Galheta eu e mais duas imediatamente nos livramos de nossos sutiãs e vivemos
a deliciosa sensação do topless! Era o fim da tarde, o sol estava brando,
estávamos sentados na areia, continuando nosso papo tranquilamente e de repente
todos nós visualizamos um homem que fazia nu total: olhamos, claro, mas ao
mesmo tempo retornamos para nossa conversa, e o peladão continuou na sua
curtição.
Resolvi mergulhar para desfrutar um pouco mais da minha liberdade
semi-nua e sem que eu visse uma de minhas amigas fez essa foto maravilhosa. Se
banhar no mar sem sutiã é delicioso, me sinto mais em contato com o todo, com a
natureza, com uma a coisa a menos me restringindo, me amarrando e me impedindo
de me sentir mais livre! Não foi a primeira vez fiz topless, mas infelizmente não
posso fazê-lo com mais freqüência sem que eu corra o risco de ser presa,
felizmente eu estava com pessoas de pensamento pós-moderno e que respeitam o
direito de liberdade de todos os indivíduos.
Voltei para meu grupo e continuávamos
nosso papo descontraído, me secava ao sol enquanto papeávamos, até que um dos
meninos nos alertou que havia dois homens parados olhando para nós com os
peitos de fora. A princípio tentamos ignorar, mas o mesmo amigo disse que eles
continuavam olhando e que havia malícia em seus olhares, todos nós olhamos para
eles mais uma vez e uma das minhas companheiras de topless, que tem o pavio
curto, virou para eles e perguntou "ALGUM PROBLEMA?!", os dois
fizeram cara de paisagem como se não fosse com eles e, se bem me lembro,
disfarçaram, mas continuaram lá. Até que o namorado desse amigo que nos alertou,
querendo nos proteger, sugeriu que nos vestíssemos, pois não sabíamos quem eram,
e eu achei melhor que fôssemos embora.
Teria sido uma tarde perfeita não fosse a
maldade daqueles dois idiotas, como se, a julgar pela idade que aparentavam
ter, nunca tivessem visto peitos em suas vidas... e se eu comentar essa história o comentário
mais provável que vou escutar - de homens e, o que mais me dói, de mulheres -
é: "Se vocês não tivessem tirado os biquínis não teriam passado por essa
situação"...
Hoje é o Dia Internacional da Mulher e em pleno século XXI ainda
não conquistamos nosso lugar ao sol. Relembrar dessa tarde de topless me faz
refletir que por mais que tenhamos avançado depois de tantos anos de luta pela nossa
liberação ainda temos que lidar com esse tipo de comportamento pueril de homens
e da sociedade adultos. Ainda preciso me impor para explicar questões feministas
e usufruir o meu direito de ser feminista sem que isso me transforme no diabo.
Se é que hoje é um dia de se ganhar presentes (pela estúpida
condição da natureza do meu sexo) o que mais quero além do fim da ignorância acerca
do assunto e a conquista da igualdade de direitos é que minhas companheiras de
gênero acordem para a realidade que nos cerca, que paremos de aceitar o
machismo como a condição real do universo: nós mulheres precisamos ver o mundo
com uma visão feminina, e por que não, feminista das coisas?! Temos que
aprender a fazer o que Virginia Woolf diz em Um quarto todo seu (1929), onde ela defende o direito ao espaço da
mulher no universo criativo e sugere que nós mulheres sejamos amigas das outras
mulheres e nos defendamos contra todo o moralismo que quer nos dizer como
devemos agir, para deixarmos um legado de empoderamento para nossas filhas, ou
seja, as mulheres do futuro, para que dessa forma tenhamos esse espaço todo
nosso para pensarmos e agirmos como quisermos, sem que nossas atitudes sejam
pré-moldadas pelo pensamento patriarcal, para aí sim, sairmos ao sol, de
topless ou não!
Nossas atitudes e nossos corpos são somente nossos e temos que ser
conscientes da importância da luta e da aquisição dos nossos direitos à
igualdade. Aí sim, terei prazer em ouvir: feliz dia da mulher!
Não tive receio nenhum de anexar minha foto a esta publicação, e
sei que dentre os que vão acessar este texto, alguns vão fazê-lo talvez para
ver se há fotos mais reveladoras, talvez alguns para saber o que eu fui caçar
numa praia de nudismo, e sei que vai haver quem diga que sou doida ou que estou “acima do
peso” para me expor assim. Mas sinceramente, eu amo essa foto! Além de ser a
recordação de um dia muito legal me sinto mais parte da natureza ao ver a minha
cor se misturando com a cor da areia, e sinceramente: estou muito linda, viva e
em paz com meu corpo! Mas principalmente com a minha consciência que tenho o
direito de colocá-la aqui!
Beijos, amigas!
Flávia Criola
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